Vida longa ao Big Brother
Mesmo sem saber o vencedor do “Big Brother 10” (que, a julgar pela enquete do IG, deve ficar entre Dourado e Fernanda), já é possível fazer um balanço desta edição:
1) Este foi o melhor elenco dos dez anos do “BBB Brasil”. Pela primeira vez, uma edição deixou a sensação de que não havia coadjuvantes no programa, de que qualquer candidato poderia virar protagonista em um dado momento, de que ninguém estava ali a passeio.
2) Este foi também o ano em que a “direção de atores” se fez mais evidente. Nos momentos em que um candidato se mostrava passivo demais, a direção do programa o cutucava para acordar para o jogo. O caso mais evidente foi o de Fernanda, que ouviu de Boninho a ordem para liberar geral nas festas.
3) Esta foi a edição em que a direção assumiu de vez que o programa é mais show do que reality, de que vale tudo no jogo pela audiência. O Deus do “BBB” nunca foi tão cruel, como mostraram as várias provas de resistência. E o telespectador tornou-se cúmplice, ao escolher o castigo dos candidatos no teste do carro. Nem o espectador pôde ser passivo desta vez.
4) Isso significa que esta foi a melhor edição da história do “BBB”? Não. As razões vêm a seguir.
5) O primeiro problema foi de edição, de montagem, muito menos inspirada que em anos anteriores. Houve uma ou outra boa sacada – como a novelinha em portunhol que ironizava o fato de os candidatos representarem como se estivessem em uma novela real. Mas elas foram poucas – e repetitivas. O recurso ao portunhol, por exemplo, foi usado à exaustão.
6) Paradoxalmente, a força do elenco também foi um problema. Em outras edições, quase sempre se delineava um conflito dramático entre os protagonistas (os pobres contra os ricos da edição ganha por Cida, os bons contra os maus das edições vencidas por Jean e Alemão). Desta vez, os conflitos se formavam, mas logo se esvaziavam. Foi o caso da rivalidade entre Dourado e ala gay. Em um momento, este prometia ser o eixo do programa. Mas em pouco se formou outro pólo de tensão – e outro e mais outro. Talvez a complexidade dos personagens tenha dificultado a tentativa de encaixá-los em uma narrativa folhetinesca tradicional.
7) O último problema desta edição, mas não o menor, foi Pedro Bial. O apresentador sempre foi um trunfo do programa – e, nas duas (fracas) edições anteriores, foi também o protagonista. Neste ano, porém, ele “surtou”. Em vários momentos, fez comentários que deveriam ser espirituosos, mas que soaram apenas grosseiros. Em outros, parecia mais perdido que os candidatos. TV ao vivo não é fácil, e Bial já mostrou do que é capaz. Vamos torcer para que ele retorne à “normalidade” na próxima edição, porque o “BBB” precisa de um Bial relativamente são.
8) Apesar das ressalvas, o “BBB” continua sendo o programa mais intrigante da TV brasileira – só não sabemos se isso fala mais sobre as qualidade do programa ou sobre a falta de qualidade da TV brasileira. A conferir nos próximos capítulos.
Para finalizar, aqui vai um link para uma história em quadrinhos simpática que ironiza justamente tentativas pomposas como esta de fazer uma crítica do “Big Brother”.